domingo, 8 de março de 2015

Eu quero ser o Dwight! ou Por que eu não escolheria ser mulher novamente

Se pudesse escolher, eu não seria mulher

O dia de hoje traz diversas análises, se devemos ou não comemorar, se os homens devem e podem nos presentear com flores, se podem abrir a porta do carro, estrutura do mercado de trabalho, entre outras.

Temos riquíssimos textos nesse sentido e por isso, pretendo fazer diferente. Vou dar um depoimento mais pessoal de como eu vejo o 'ser mulher'.

Não tem como começar sem ser pelo tema mais pungente: o corpo da mulher é um bem público - ao menos é o que parece. E no mínimo, de duas formas diferentes.

Somos bombardeadas o tempo todo por mensagens e insinuações sobre como deveríamos ser - e o pior, mensagens contraditórias!

No inicio desse ano, teve uma semana em que os dois assuntos mais debatidos foram a forma feminina. De um lado a linda bunda da Paola Oliveira e de outro, a coragem da jovem obesa que desfilou no Garota Verão. E não é só uma citação aos fatos, são dissecações, dissertações, videos em câmera lenta

De onde tiraram que é importante, possível, permitido e elegante ficar falando do corpo dos outros? Isso é intrusivo. E no meio disso tudo, ficamos na platéia sem saber como atender ao que esperam de nós, que sejamos corajosas e desencanadas com a nossa figura, mas também gostosas como a Paola. Oo 

O outro lado pelo qual nosso corpo é tomado como publico são nas massivas agressões perante as quais temos que calar todos os dias.
Um assobio não é só um assobio, é todo o medo que temos que passe disso. É o saber que temos que baixar a cabeça, porque se xingarmos o cara pode vir atrás de nós e ser pior.
Talvez os homens não saibam, mas nós temos que escolher nossas roupas pensando na forma que ficaremos menos à mercê de violência.
Duvido que algum homem tranque a respiração de medo e conte os segundos para passar por um grupo de quatro ou cinco mulher que estejam na calçada. Eu sim. E não é por me achar a última bolachinha do pacote, é experiência.

Outra questão é sobre o 'pacote 'feminilidade' que devemos ter: doçura, habilidade interpessoal, ser boa com crianças, fogões e vassouras. Também tem o pacote de coisas que não são 'de mocinha' ou de mulher: opiniões, lidar com dinheiro do casal, entender de carro, saber dirigir bem, matemática, física, estratégia. Aqui eu precisarei abrir dois grandes parênteses.

Parêntese 1: O preconceito mais ridículo, raso e sem sentido é que nós dirigimos mal.   Come on, as seguradoras tem exércitos de contadores, economistas, cientistas atuariais e cobram menos de nós. Isso é a maior prova que tem que as mulheres dirigem melhor - o mercado não mente.

Parêntese 2: Aff, esse é bucha. Há dez anos, eu fazia o curso de tecnologia em telecomunições no IFSul e tinha, me desculpe, um animal de um professor que proferia em alto e bom som, para alegria da audiência majoritariamente masculina, asneiras como "Isso é integral de macho, vocês não vão conseguir", "As gurias deveriam estar em cursos de tricô, corte e costura, não estudando eletricidade".
Algumas colegas saiam chorando de aula e um pensou em desistir do curso por não conseguir passar com esse professor (não consegui achar nenhum adjetivo


Fonte da imagem

Felizmente, acho que nesse aspecto fizemos um pequeno avanço, pois mesmo que continuem pensando isso, não consigo imaginar um professor falando isso em aula e que todas ficariam quietas. Acho que essa barreira do silêncio já quebramos.


Voltando ao pacote de coisas que devemos ter. Não considero que o que conquistamos com a revolução feminista são nossos direitos - essas coisas acabaram se somando às nossas obrigações.

Além de nosso papel de cuidar do lar, da familía, dos suprimentos, agora TEMOS que estudar, trabalhar, ter nossa renda, cuidar do corpo, estarmos informadas do mundo e da política.

O que era para ser opções e nos abrir um leque de possibilidade para diferentes vidas que quiséssemos ter, viraram obrigações, deixando nosso fardo ainda mais pesado.

Experimentem dizer que vocês não querem ter filhos. Ou que não querem um carro. Ou que não estão de dieta. Gente, às vezes é pior que ofender a mãe de alguém. Não dá, tua vida não está completa sem o conjunto marido-filho-apê-split-carro financiado.
Na minha volta, os questionadores por enquanto estão mais calmos, mas sei que assim que eu fizer trinta, meu útero voltará a ser assunto público.

Um tanto dessas aberrações que definem o papel de cada gênero - que teimam em chamar de sexo - vem de livros pseudo científicos. Eu mesma cai da armadilha do "homens são de marte, mulheres são de Vênus", "Porque os homens fazem sexo e as mulheres choram". Por algum tempo acreditei que era verdade, que temos definições biológicas que nós fazem ser assim e não há nada que possamos fazer para mudar.

Felizmente, encontrei - ou fui encontrada - por um artigo que esclarece aquele tipo de livro: sim, temos distinções na formação do cérebro, mas sua interferência no comportamento é ínfima comparado a influência do ambiente.
Seria algo como temos 1% de diferença biológica e 40% vem da cultura em que estamos inseridos.
Ou seja, é a sociedade e a criação que nos faz fofinhas, prendadas, amorosas, enquanto eles são fechados, não falam de sentimentos e são bom com máquinas e motores.

Parece que tudo é contra nós: na escola, na academia, no trabalho, na saúde, na família. Eu estou há um tempo procurando, mas não consigo achar vantagem em ser mulher.

Se eu pudesse escolher, seria homem - afinal, se a vida fosse um video game, quem escolheria sair com o personagem mais fraco?
  

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